Retorno ao Escalvado.

Com o sol brilhando e a interdição do acesso a alguns morros na região do Vale do Itajaí, as rampas do Escalvado voltaram a receber as asas que há algum tempo estavam desaparecidas. Mais uma vez fora do melhor horário, chegamos juntos no sábado para uma boa brincadeira. Ivo puxou o vagão seguido pelo Robert e João Rotor. Decolagem técnica, nada de ventinho de frente, o que se verificava era uma rotozeira constante, daquelas que a birutinha presa ao cabo girava a cada instante. Essa condição acabou atrasando em mais alguns minutos a decolagem do segundo pelotão. Quando decolamos Beto e João já haviam feito a primeira tirada, mas com pouca altura. Dos três apenas o Ivo ainda insistia tentando se manter no ar, com térmicas muito quebradas e fracas. Como não dava para ganhar muita altura saímos eu, Dingo e Ivo com uns 600 metros para buscar a próxima térmica ao lado da BR-470. Realmente não estava fácil, só pra ter idéia, nessa hora o Beto, que tinha saído bem antes, chegou baixo para se juntar a nós enquanto achávamos que ele já estava bem adiantado. Subimos nos ajudando na turbulência, e o vento tinha apertado bastante. Como não sou tão "guerreiro" como o resto da gangue, quando eles tiraram optei por insistir um pouco mais e nisso consegui ganhar mais 200 metros e alcançá-los mais à frente, na região do Baú Baixo, em uma posição mais confortável. Depois agradeci por isso, pois essa área foi justamente aquela onde aconteceram grande parte dos deslizamentos durante a última enchente e embaixo tudo era lama. O que antes eram arrozais agora mais parecia um mar de lama. E lá estavam eles, Ivo e Dingo, baixos, sem opção de pouso, ralando pra tentar garantir a saída daquele buraco. Conseguiram, mas sem altura salvaram apenas um pouso seguro. Passei a diante mas cheguei baixo no que poderia ter sido mais um gatilho, mas não tive gabarito pra arredondar aquela térmica, forte e turbulenta, que acabara de se desprender, pelo menos não na altura que estava. Fiquei então no km 17, já pousando com a ventaca. O Robert ganhou na minha cabeça, subiu uns 300 metros e se juntou ao João Rotor que havia pousado no trevo de entrada para Gaspar, no km 23. Ninguém conseguiu chegar ao teto, fui o mais alto no dia e não passei dos 800 metros. De qualquer forma, o vôo foi ótimo com todos juntos de termal em termal. É possível que fosse melhor se tivéssemos decolado mais cedo e voado em condição de vento moderado por mais tempo, mas vai saber não é. Vôo livre é assim mesmo, uma caixinha de surpresas.

Domingueira em Salete.

Nesse domingo, fizemos a barca para Salete/SC. Adistância era longa, cerca de 250 km, eu e Robert já saímos atrasados de Balneário, às 9:30h, com parada em Indaial para embarcar o Dionei e seu pai, Jair, que salvou o resgate da turma. Chegamos à rampa uma da tarde, toda a galera que estava lá desde sábado já tinha decolado, alguns pousados e outros na tirada, longe de nossas vistas. Mesmo assim fizemos aquela montagem rápida e meia hora depois estávamos em vôo. Já tinha ido a Salete antes mas numa condição de prego certo tinha optado por nem montar o brinquedo. Dessa vez a condição estava mais bonita, mesmo um pouco fora do melhor horário ainda poderia rolar um bom vôo. Robert na frente, Dionei na seqüência e eu logo em seguida. Ganhei a rampa logo no segundo bordo, mas não me prendi muito por ali, joguei para o buraco em direção a um gatilho que funcionou bem, subimos juntos eu e Robert. O Dionei não conseguiu subir e acabou ficando por ali mesmo. O teto estava 1850 metros a nível do mar, sendo que o desnivel da região é de 400 metros. Partimos para a primeira tirada em direção à cidade de Taió, na metade do caminho engatamos em outra e foi bom estarmos juntos pois um ajudou bastante o outro na subida, já que as térmicas estavam muito falhadas abaixo dos 800m. Dessa vez fomos ao topo, o Beto entubou e partiu para nova tirada, saí um pouco atrás e optei por abrir a rota um pouco mais a leste de Taió enquanto ele seguia mais a oeste. A opção dele foi a melhor, não consegui mais nada consistente e fiquei no quilômetro 19, com gostinho de quero mais. Lá de cima tudo parecia bem plano, mas era morrote pra tudo que é lado. Pela primeira vez fiz um pouso chapando num morro. O local para aproximação era bastante complicado mas a chegada ao solo foi perfeita e a localização perfeita para o resgate, atrás do posto da polícia rodoviária. PS.: não indico esse pouso pra ninguém, cheio de obstáculos. O Beto continuou seu vôo mas acabou ficando no quilômetro 32, às margens da BR-470, mesmo estando alto na região a condição se dispersou e as alternativas ficaram escassas. O lugar tem alto potencial para o cross, boas opções de rotas em vários quadrantes, vale a pena, mas como é muito longe o ideal é a investida para mais de um dia. Do primeiro pelotão o Ivo mandou 49km, o Victor pousou em Mirin Doce e o Cláudio de Joinville próximo à 470, na rota para o morro do Funil, mas não se a distância de nenhum deles. Em breve estes vôos devem estar lançados no Flexicotton, que agora tem mais uma rampa cadastrada no Estado de Santa Catarina, Salete.

Depois da tempestade vem a bonanza...

Bem, por aqui a bonanza vai demorar um bom tempo a chegar e acho até que esse ditado não seria muito bem visto, já que os estragos foram imensos para milhares de famílias. Mas, passada a tormenta, agradecido por nada ter sofrido, retorno às minhas postagens após quase quinze dias para dizer que o acesso às rampas do Escalvado/SC econtra-se totalmente liberado, como se nada tivesse acontecido por lá, apesar de ficar a menos de dez quilômetros de uma das regiões mais atingidas, o alto do Baú, no Município de Ilhota. Portanto, quem estiver na pilha de dar aquele vôo sem ter que ficar muito tempo na estrada, fique sabendo que a estrada está ótima. Mas atenção, se por terra está tudo tranquilo, no ar, é bom ficar atento, pois o tráfego aéro é intenso já que muitos helicópteros continuam sobrevoando a região soterrada no pé do morro do Baú. Bons vôos...