Renatinho Campos Ribeiro...

Transcrevo abaixo uma matéria da jornalista Débora Kemplous que mostra um pouco  sobre nosso querido amigo Renatinho Campos Ribeiro e o que o voo livre representava para ele. A matéria foi publicada pelo Jornal Notícias do Dia em dezembro de 2012:

Renatinho decolando para o 1º dia de prova do CCAD 2013 em Santo Amaro da Imperatriz


"Do alto dos 620 metros Morro do Queimado, em Santo Amaro da Imperatriz, no Parque da Serra do Tabuleiro, o piloto Renato Ribeiro, apesar de toda a experiência adquirida ao longo de dez anos de saltos, ainda sente o mesmo frio na barriga de quando decidiu voar de asa delta sozinho aos 18 anos. A emoção de estar acima das nuvens é indescritível. “Cada voo é único. A natureza não se repete nunca. A gente se sente apenas um grão no meio de toda essa atmosfera”, comentou Renatinho, o único instrutor habilitado para fazer voo duplo em Santa Catarina.  


A asa delta é um esporte radical e um dos mais seguros também, com 15 mil praticantes no Brasil, mil deles em Santa Catarina. Os melhores pilotos participam do CCAD (Campeonato Catarinense de Asa Delta), que nesse fim de semana terá a última etapa, em Canelinha, neste sábado e domingo. No Estado, o melhor local para a prática é justamente Santo Amaro, com a sua grande rampa de decolagem. “Tem poucas edificações e em quase todos os dias do ano têm voo e uma rampa ampla para quase todos os quadrantes de vento”, disse. 


A direção do vento é o principal fator para um bom voo. A temperatura, a umidade do ar e a pressão atmosférica também contam. Quando o piloto salta, desenha círculos no céu até que a corrente de ar quente o leve para o alto. Se todas essas condições não forem observadas, há o risco de acidentes. “A asa delta é muito mais segura do que andar de carro. Os acidentes com morte acontecem por três coisas: pela condição, pelo equipamento e pelo piloto. A culpa é sempre do piloto. Quem analisa as condições? Quem monta o equipamento?”, explicou.  



Asa delta x parapente



Como no surfe e bodyboard, os praticantes de asa delta não gostam quando confundem o seu esporte com o parapente. Comparações a parte, não existe rivalidade entre os pilotos, já que voar não é uma modalidade solitária. Pelo menos em Florianópolis. “O parapente é feito só de tecido, pode abrir a qualquer momento. A asa delta tem uma estrutura reforçada por cabo de aço, tubos de alumínio e velas. Ela não se deforma no ar. São esportes completamente diferentes. Em outros estados têm intriga, mas aqui somos todos amigos”, informou Ribeiro.  


O preço de uma asa delta nacional, com roupa, chega aos R$ 5 mil. Equipamentos importados ou com tecnologia de última linha ultrapassam os R$ 15 mil. Com uma duração de até 15 anos, Renatinho não considera o custo da modalidade elevado. Após a compra da asa delta, o único gasto é com gasolina para subir os morros. “Tem gente que compra até um carro mais barato, como um fusco, só para chegar aos locais de salto. Depois se investe em viagens. Vou bastante a São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Minas Gerais”, contou.



De pai para filho


Renatinho e sua mãe, dona Herondina em preparação para o voo


A asa delta está no sangue de Renatinho. Seu pai, Rogério Ribeiro, foi um dos precursores no voo livre em Florianópolis, no começo dos anos 80, e logo abriu uma escola que durou até 2007, quando faleceu. A mãe do instrutor, Herondina, também voou e hoje tem outro filho, Lucas, que também pratica asa delta. “Quando ela engravidou teve de parar de voar. Com três anos eu fiz o meu primeiro voo duplo. Hoje voo cinco vezes por semana. Dou aula, faço voo duplo, participo de competições, treino”, falou.


 Com dois mil voos no currículo, curiosamente Renatinho nunca tinha voado com a mãe, que sempre o incentivou na prática do esporte. Herondina leva eles para decolagem, faz resgate e na quarta-feira voou pela primeira vez com o filho. Foi um momento de muita emoção para os dois. “Tenho muito orgulho dos meus filhos. O salto foi emocionante, o meu primeiro em mais de 20 anos. Não colocaria a minha vida não mão de ninguém que não fossem os meus filhos. Chorei muito. Foi lindo”, contou Herondina.



Alunos de todo o país



Renatinho tem o privilégio de ter nascido em Florianópolis, o melhor lugar no Brasil para dar aula. A vida de instrutor começou em 2008, quando o primo Matheus quis aprender a voar. Com o passar do tempo as pessoas foram aparecendo e hoje Ribeiro tem a Primeiros Voos – Academia de Asa Delta. “Quem quer voar não precisa de incentivo. Tenho alunos do Brasil todo que vêm fazer aula aqui. Como consegui os resultados, hoje em dia tem uma procura maior por causa do meu perfil Tenho 18 alunos formados e seis estão fazendo o curso”, falou.  O Curso custa R$ 3 mil, com 15 aulas, apostila e um voo duplo.



Rali nos céus



Vice-campeão brasileiro e catarinense em 2011, Ribeiro tem a chance de se tornar o melhor de Santa Catarina neste final de semana. Depois de três etapas, Renatinho está a 200 pontos do hexacampeão Robert Etzold, e está confiante em conquistar o título em Canelinha. Para o piloto, é preciso gostar do esporte para disputar os campeonatos, já que não se ganha nada além das medalhas.


“É como se fosse um rali, tem que passar por pontos determinados. Tudo é marcado através de GPS. Sou um dos favoritos. Estou colocando o Robert pra treinar um pouco. Antes ele não tinha concorrente. A única coisa que se ganha é experiência”, revelou. As outras etapas foram em Tangará, Santo Amaro e Navegantes.

Minha primeira vez*

 Renatinho e a repórter fotográfica Débora Klempous

Checadas todas as amarras e travas de segurança, a espera pelos quatro passos rumo ao abismo. Biruta apontando para a direção certa, corre, disse o instrutor, sem tempo para mudar de ideia. Não que eu desejasse repensar a decisão de atirar-me para fluir com o vento por sobre o medo do desconhecido. Nada pensei, joguei a câmera fotográfica de lado, abri as asas. Voei. O tempo congelou a 600 metros acima do mar, virou fotografia.  Pouco importavam as forças aerodinâmicas, o itinerário, a destreza do piloto. As contas, os perrengues, os compromissos.

Voar requer entrega, vazio, silêncio. Para ser preenchido pelo assobio do vento, o canto dos pássaros, o som estridente do aparelho que acusava a direção da corrente de ar quente. A fotografia ganhou movimento fluido pelas entranhas do tempo-espaço. Sem discurso, técnica ou botão. Quando dos pés em terra firme, a câmera ainda de lado, prostrei-me sobre o banco do Clube de Voo e fui cercada pelos homens voadores que haviam aterrissado. E aí, o que você está sentindo? Tudo, respondi."

*por Débora Klempous

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