Brasileiro de Asa 2010 - Brasília dia 5

Brasília no extremo. Todas as pessoas que têm um pouco de conhecimento sobre o voo livre já devem ter ouvido falar que Brasília é o "Havaí" do voo livre. Pois bem, nessa quinta-feira (26/08) o planalto central mostrou toda a sua força e fez jus à referida analogia. Desde o início do campeonato foi o primeiro dia com formações no céu, visibilidade total e nenhuma camada de inversão. Pouco vento, teto acima dos 3.800 metros (asl), ascendentes muito fortes e lisas, bem como descendentes absurdas. A prova de cento e vinte e três quilômetros contou com trinta e oito pilotos no gol. Betinho Schmitz, oito vezes campeão brasileiro, há cinco afastado do voo, foi o melhor do dia, seguido pelo brasiliense Glauco Pinto, Dudu Mato Grosso e Jonny Durand. Com esse resultado Betinho assume a primeira colocação no Brasileiro. Crazy Jon se mantém líder na Open. Restam ainda dois dias de provas e a condição não deve mudar, para alegria de todos. Novamente Robert Etzold, de Balneário Camboriú, foi o melhor entre os catarinenses completando a prova na trigésima colocação após três horas e dez minutos de voo. Com o resultado de hoje Robert sobe mais duas posição e assume a sétima colocação na categoria Ascendente. Robozinho, de Floripa, também completou o percurso chegando na trigésima quinta posição após três horas e trinta e sete minutos de prova. Renatinho Ribeiro, em sua primeira participação no Brasileiro, tem mandado muito bem e nessa quinta prova ficou a apenas vinte quilômetros do gol garantindo a quadragésima posição no dia. Tingão não teve um bom dia e ficou próximo ao primeiro pilão, no quilômetro vinte e um. Diferente dos demais dias a condição se alternava em ciclos e a possibilidade de pouso no buraco não podia ser descartada. A ausência de pressão dificultou bastante a decolagem daqueles que optaram por partir após os pilotos do campeonato. Aguardei bastante uma boa hora para poder decolar, logo que saí tentei fechar meu bullet e não consegui, o zipper emperrou. Mal posicionado e totalmente desconcentrado o pouso da Coca ficou cada vez mais próximo. Quando cheguei aos cem metros do chão percebi que precisava esquecer o zipper e me concentrar para, pelo menos, evitar a roubada maior. Deu certo, lentamente eu e mais quatro pilotos começamos a cercar uma térmica que dava os primeiros sinais de vida. Fomos subindo devagar, desviando uns dos outros em alturas próximas até que a ascendente foi ganhando força. Me afastei do grupo na deriva em direção ao Gap e funcionou bem, acertei o miolo da térmica e estampei muito rápido em relação aos outros. Que alívio, contatei o resgate informando que iria tirar direto para a fazenda JL para pousar, tamanho era o desconforto em voar naquela posição. Esse foi o primeiro momento que tentei pousar e não consegui, era muita termal, tirada ganhando tudo, nova bombaceira na frente. Segui mais adiante. Tentei me ajeitar melhor no cinto e informei ao resgate que tentaria pousar no Posto Advance, mas tava impossível descer. Estampei novamente, agora acima dos 3.200 (asl), mão congelando e a maior friaca nas pernas, cinto aberto e bermuda, péssima combinação. Derivando em direção ao trevo da PM na saíde de Brasilinha pedi para o resgate me aguardar no trevo da entrada do Pipiripau, dei meia volta, coloquei a asa no contra-vento e pensei, agora eu desço. Cheguei sobre o resgate ainda com uns quatrocentos metros, mas... Isso mesmo outro canhão. Agora chega, vou me conformar com todo o incômodo do cinto aberto, fechar o máximo que conseguir o ziper de cima e tocar adiante, mas optei por outra rota, seguindo pelo asfalto até o trevo interditado de entrada da rampa, dali para Planaltina e Pivo Central. Nas antenas do Zé Maria ganhei novamente, dessa vez já não era aquilo tudo, mas fui arredondando e subindo, já eram quase quatro horas e há duas estava voando, agora já não queria mais pousar pois a Esplanada estava a apenas quinze quilômetros, tirei para a Guerra Eletrônica e fui afundando, cheguei baixo, vasculhei toda a área sem me afastar do pouso, sobe um pouquinho aqui, cai bastante ali. Forcei mais a esquerda da Guerra, baixinho novamente o vario deu sinal de vida, mas foi apenas um suspiro, matei a pouca altura que sobrara em direção ao Setor de Mansões do Lago e estacionei na ML 5, mesmo local que havia pousado na terça-feira, apenas dez quilômetros da Esplanada e com duas horas e cinquenta minutos de voo. O esforço para uma boa acomodação ao longo do percurso foi tanto que quando pousei nem conseguia apoiar minha perna esquerda, acho que arranjei uma distensão na coxa. Logo em seguida pousaram comigo o Erick Vils (RJ) e Carlão (SP), ambos no campeonato. Zé Maria, o rei da Esplanada, que em cinco dias de voo obteve cem por cento de aproveitamento, dessa vez, modestamente, para não ficar muito feio para nós outros, resolveu ficar próximo ao Iate Clube, a menos de três quilômetros do gramadinho, com ele pousaram ainda o Ivo e alguns outros que não conseguiram aquela última "bufadinha" para passar pelos Ministérios. Amanhã tem mais... Não para mim, terei que trocar o ziper estourado e ainda cuidar da minha distensão, mas voo livre é assim mesmo.

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